Sâmara Escreve

não plante sua semente não  que meu terreno é muito fértil. eu sou uma árvore frutífera,  frondosa, afrontosa, tão vivaz quanto mortífera. também sou ternura, como uma fêmea, uma mamífera. fera não raivosa, cujo desejo não espera, nem reprime ou vocifera, e só se acalma quando goza. meu apego faz sentido, meu sentir é ensandecido, costuro, entrelaço, ultrapasso, afeição. então eu vejo, penso e pressinto, delineando meu próprio instinto, uma espécie de fecundação. no entanto, se plantas tua semente, tenha em mente semear. pois no íntimo de uma mamífera,  uma fera também é um solo prestes a fertilizar. sâmara azevedo® 

volto pra casa com seu gosto na boca seu cheiro impregnando meu juízo minha mente em estado de catatonia, lembrando seu estrondoso gemido,  rítmico, ruidoso, impreciso uma espécie de sinfonia. eu cambaleava, tropeçava pés e pernas ainda sem compreender aquele momento insólito nenhum cineasta haveria de pensar num enredo tão mal feito, improvável, tão sem jeito em q’eu me apaixonaria por você de propósito. tudo bem, eu sabia com quem estava lidando todo dia tinhas alguém para escolher e entre tantas, todas e muitas, teu ego era alimentado pelo que podias ter. aquele momento pôde ser seu, ser único mas foi meu, foi intenso e mediúnico e tão egoísta quanto você. o entrelace, a afinidade, o encaixe perfeito que naquela noite ficou nítido entre nós  se desfez num estalar de dedos quando a ausência foi tomando espaço  fazendo do cansaço nosso algoz. nervos e músculos, pele, suor, corrente elétrica de gozo em eletrólito  também o descaso, o silêncio e o sumiço  como um...